segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

JULIELE NA CIDADE DAS MANGUEIRAS

Esteve em Belém, nesse final de semana a cantora amapaense Juliele, divulgando o seu disco single-promocional e agendando shows pra Capital das Mangueiras. Na ocasião a artista foi recebida pelo diretor do grupo Liberal Guarany Júnior que a orientou para uma entrevista o que lhe rendeu a capa da revista Magazine do jornal o Liberal daquela cidade, que foi veiculado nesse domingo. Foi recebida também pela editora chefe do jornal o Diário do Pará, Esperança Bessa, que a encaminhou a jornalista Flávia Ribeiro que a entrevistou. Tive acesso ao material e recomendo a leitura, pois a cantora intuída por um estado de espírito coletivo, assume definitivamente sua identidade de intérprete da Amazônia, com uma leitura inteligente da efervecência cultural que vivemos, vislumbrando horizontes promissores para as artes da nossa terra, a partir do conhecimento coletivo das nossas potencializadas culturais.

Confira a Entrevista...

 DIÁRIO DO PARÁ




Cantora busca tornar conhecida sua voz 
 Uma advogada que abraçou a carreira de cantora, iniciada com o lançamento do primeiro cd. Assim é a amapaense Juliele Marques, que desembarcou em Belém na última semana para ser apresentada ao mercado daqui pelo respeitado Maestro Manoel Cordeiro, considerado o pai da lambada e que há alguns anos está radicado lá na cidade cortada pela linha do Equador. Desde os primeiros passos na carreira, Juliele se cercou de gente boa. Além de Cordeiro ela já trabalhou com Celso Viáfora, Nilson Chaves e Adelbert Carneiro, entre outros. O resultado de tudo isso está nos elogios dos críticos e a comparação com cantoras como Gal Costa, por exemplo. A seguir, conheça mais sobre esta cantora uqe só fica em Belém até amanhã, mas ainda vai dar muito o que falar por estas bandas.
 
- Idade e tempo de carreira

A vaidade feminina nos impõe uma norma de conduta que estabelece o segredinho básico da ocultação da idade, mas acredite, no bolo de festa eu uso uma velinha com um ponto de interrogação. Dizem que além de despertar a curiosidade masculina, faz bem pro ego. Quanto à carreira, meu primeiro Cd foi lançado em 2007, foi também, meu batismo nos palcos. Foi uma coisa meio atípica, pois sai do estúdio com data marcada para enfrentar um público com teatro lotado. O detalhe ficou por conta das feras que estavam na platéia, tipo o poeta Thiago de Melo, o compositor Celso Viáfora - autor da linda "olhando Belém", Vicente Barreto, ex-parceiro do poetinha Vinicius de Moraes, enfim, um mundo que eu queria mas que não o conhecia por dentro. 
 
- Quais seus planos em Belém? Como tem sido a estada? Até quando você fica na cidade?

Ampliar meu horizonte e difundir o meu trabalho. Interagir com esse povo maravilhoso, capaz de cultuar uma relação de hospitalidade sem igual. Devo dizer que tenho verdadeira paixão pelo jeito de ser do povo daqui. O Paraense gosta de arrazar: a cerveja de sua preferência é a Cerpinha, a comida é o Pato no Tucupi, a Maniçoba, o Açaí..., o Natal Paraense é o Círio da Virgem de Nazaré, time de futebol é Remo ou Paissandu, e por ai vai. Minha estada nessa oca de mangueiras tem sido das melhores. Pude rever amigos e conhecer pessoas interessantes no cenário musical. Espero em breve retornar, pois minha agenda me chama para outros compromissos, razão dessa breve estadia em Belém, ficarei até a segunda-feira.
 
- Como ficou o Direito na sua vida?

O Direito me deu uma visão mais humanista, me ampliou horizontes, me fez ver as relações sociais por um outro prisma. Sempre atuei na seara do Direito de Família. Aprendi  que quando nos depararmos entre o direito e a justiça deveremos optar, sempre, pela justiça, pois o Direito é híbrido e falível em razão da falibilidade humana. Gosto do Direito, mas te confesso que meu mundo é o palco, são as luzes, os acordes, esse imemorável Balé de Luz! Esse é o canto do meu canto.
 
- Seu começo de carreira foi diferente do que acontece com a maioria dos cantores que começam em barzinhos. Conte mais sobre como foi que você decidiu investir na carreira musical.

Meio que ao avesso de tudo que se pode imaginar: comecei cantando com meu irmão, depois na igreja do bairro, mas "na vera", foi dentro do estudio, gravando com um monte de feras, regidas pelo imemorável Adelbert Carneiro, gravando músicas de Ivan Lins, Bárbara Rodrix, filha do pranteado Zé Rodrix, para logo em seguida subir ao palco de um teatro completamente lotado e tudo mais. Quando eu pensei que iria dar uma assentada nesse turbilhão, veio uma turnê em São Paulo, no palco do Tom Jazz e, em seguida no Rio de Janeiro na sala Baden Pawell. Foi assim, fui tirada da arquibancada direto pra passarela. Como diz o cancioneiro popular: começaria tudo outra vez, se preciso fosse...

- O que mudou na tua vida quando comparas com o período anterior à decisão de se dedicar mais à carreira musical?
- E quando comparas a artista que eras no primeiro Cd e a que é agora, em que mudaste?

Mudou tudo! Eu faço aquilo que gostaria de estar fazendo, e, para mim, isto é a sublimação do que chamamos de felicidade. O poeta Fernando Canto me presenteou uma letra cuja melodia o meu querido maestro Manoel Cordeiro assina, e, que sintetiza tudo quando diz: "...a felicidade está aqui na minha frente, apontando meu amor, no coração...", chama-se "Balé de Luz", está no meu Cd promcional e retrata a minha relação de amor, com, e, diante do meu público. Portanto, a cada reflexão que faço sobre minha vida, acredito que fiz a melhor escolha. A análise de comparação entre um e outro tarbalho é meio dialética e sentimental - se marx fosse vivo me mandaria pra Sibéria, mas é assim mesmo. Eu vejo o primeiro Cd como um grande desafio superado, afinal eu estava apostando todas as minhas fichas no viés que desejava como profissão. É um trabalho b em elaborado e, conceitualmente bem aceito pela crítica. O crítico musical paulista, Mauro Dias foi muito generoso comigo em artigo de sua lavra. Do mesmo modo Aquiles Reis, crítico e vocalista do MPB4 e tantos outros anjos que me acudiram. Nesse novo trabalho, faço uma flexibilização no meu repertório, tornando mais plural o meu trabalho, principalmente no resgate de canções que se abrigam no inconsciente coletivo da nossa gente amazônida: Ao pôr do sol e Luz do Mundo, falam por si! É uma fusão de vertentes dentro do mesmo caminho, mas com um olhar mais dentro da nossa aldeia.

- Em algum momento surgiu dúvida ou arrependimento depois da decisão?

Jamais! Na verdade eu estou em pleno estado de Nirvana, feliz! Como diria o Lennon: "pra cima e pro alto". Afinal, o palco é minha casa, minha oca, meu iglu.
 
- Com 2 CDs lançados já ser comparada com cantoras consagradas como Gal Costa, por exemplo?

É generosidade demais para comigo. A Gal tem vastissíma quilometragem de sucesso e eu, sou uma operária da noite que busca seu espaço. À medida que surgem as comparações eu me envaideço um pouquinho e depois procuro calçar as sandálias da humildade e caminhar. No entanto, sem querer me afastar da modéstia eu sempre carrego comigo o desafio de vencer etapas para um dia ter o meu espaço e a regra básica é aquela do "Só Por Hoje".

- Como você acha que a música da região Norte pode se destacar no cenário nacional? Qual o diferencial da região?

Veja bem, todos os quadrantes desse País já fizeram acontecer: cariocas, paulistas, baianos e outros nordestinos etc. Agora, o trem da história, o mar da história, estão agitados por essa profusão de ritmos que a nossa música possue, e eu não tenho dúvida que é chegada a nossa vez. O grande diferencial vai vir da pluralidade do carimbó, do Siriá, do Boi de Parintins, do Marabaixo, do Batuque e das influências que o platô das guianas emana, seja com o Zouck Love e outras manifestações. Dessa fusão de ritmos nativos, essencialmentes dançantes, com o World Music é que mostraremos nossa identidade musical, pronta pra ficar. Michel Jackson, Paul Simon e outros já se aventuraram na decodificação do nosso DNA. Esta certeza eu carrego comigo, e quem sabe, na próxima estação chegará a nossa vez. É fé na vida, fé no que virá!

- Contar com apoio de artistas como Celso Viáfora, Nilson Chaves e Manoel Cordeiro te ajudaram de que maneira?

São anjos que me guardam, me guiam e me orientam nessa caminhada. O Celso Viáfora precisa ser descoberto pelo Brasil. De longe, é o melhor compositor que eu conheço. Ele é de uma sensibilidade Freudiana. Tê-lo dirigindo meu primeiro trabalho ao lado do Nílson Chaves foi da pesada. Viáfora abriu o Brasil musical para que pudesse entrar. É um baita parceiro! O Nílson Chaves é o nosso embaixador, é o porta-estandarte da música amazônida, conhecedor profundo das manhas e das manhãs que essa profisão impõe àqueles que ousam ousá-la. É de uma vastidão imensa, de uma sensibilidade sem igual. É o nosso guerreiro, sempre com a faca nos dentes e o revólver ao alcance das mãos quando é pra defender o nosso canto. Ele me fez amadurecer e superar as agruras de cada tempo. É meu irmão de lua, meu guia, meu Xamã. O Manoel Cordeiro eu o reputo como um dos maiores nomes do cancioneiro brasileiro
Desde já, obrigada pela entrevista!. Eclético sem ser tirano, profundo sem soberba, e mestre na arte de conviver. Ele me mostrou que é possível refazer um mesmo caminho vivendo novas emoções, com ele eu senti a segurança necessária para empreender novos voos. Além da formatação do meu novo trabalho, ele aposta que esse jogo nos poderemos virar. E vamos virar!

- Qual música você gostaria de interpretar, mas ainda não teve oportunidade?

Na boa, meu sonho é gravar uma canção do Roberto Carlos. Sabe aquelas cartografias de amor que só quem é Rei é capaz de nos colocar mais próximo de Deus? Pois é, Um dia, como a areia branca, meus pés irão tocar, e minha voz vai entoar um canto que alcançará os recônditos da almas dos poetas, dos amantes e de todos que fazem do amor o seu grito de guerra.

Flávia Ribeiro
Jornalista - 1658 DRT/PA
Contatos: (91) 8854-5819 / 8283-6116
MSN: andrea_sepeda@hotmail.com
twitter.com/superflaviajor

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